Escritórios da Unity são fechados após ameaça de morte ao CEO
O anúncio da chamada “Unity Runtime Fee” – a tarifa que a Unity pretende cobrar dos desenvolvedores de jogos a partir de janeiro do ano que vem – vem tomando rumos cada vez mais perigosos: segundo a Bloomberg, os escritórios da empresa foram fechados hoje (14) após receberem ameaças de morte ao CEO, John Riccitiello.
A matéria da agência explica que a Unity havia planejado uma reunião aberta, mas tudo foi cancelado e dois escritórios, fechados.
“[A Unity] foi alertada de uma ameaça em potencial aos nossos escritórios e tomou medidas imediatas e pró-ativas para assegurar a segurança de nossos funcionários. A empresa fechou escritórios que poderiam ser alvos em potencial nesta quinta e sexta-feiras, e está cooperando integralmente com as autoridades.” – Unity, em comunicado à Bloomberg
Especificamente, a agência não informou se a ameaça era direcionada especificamente ao CEO, mas Riccitiello estava agendado para falar na reunião geral. Obviamente, ele foi recolhido pela segurança da empresa. Os escritórios fechados ficam em Austin e São Francisco.
Riccitiello, no entanto, é um velho conhecido das controvérsias financeiras: entre 2007 e 2013, quando liderava a Electronic Arts (EA), durante uma reunião interna da empresa, ele chegou a sugerir que a empresa “cobrasse um dólar” cada vez que um jogador carregasse a sua arma em Battlefield – um jogo de guerra em primeira pessoa.
Desde 2014, Riccitiello responde como CEO da Unity. Após o anúncio do dia 12, a página do verbete “Ganância” (“Greed”, em inglês), na Wikipedia, passou a exibir uma foto do CEO, com a legenda “uma pessoa conhecida por suas práticas gananciosas”. A alteração já foi corrigida ao longo do dia, mas ainda pode ser vista no histórico de edições da enciclopédia online.
Modelo de negócios da Unity causou extrema insatisfação
A ameaça de morte foi o episódio mais recente de uma série de casos envolvendo a Unity desde o último dia 12. Naquele dia, a empresa anunciou que criaria uma taxa de cobrança por instalação de cada jogo que fizesse uso da tecnologia – um motor gráfico concorrente, porém igualmente popular, à Unreal Engine da Epic.
O problema: quem pagaria por essa taxa seriam os desenvolvedores de jogos, independente de tamanho, orçamento disponível ou capacidade operacional. Em outras palavras, os mesmos valores se aplicariam tanto ao gamedev independente que trabalha do próprio quarto como para a equipe de 150 pessoas de um estúdio AAA.
Inicialmente, a Unity havia dito que a taxa seria aplicada “por instalação”, dando a entender, por exemplo, que se você instalasse o jogo pela primeira vez, uma cobrança seria feita. Se você deletasse o jogo e o reinstalasse meses depois, outra cobrança. O estúdio liberou uma demo ou um teste beta antecipado? Mais uma cobrança. E assim por diante.
Posteriormente, a empresa mudou suas comunicações, dizendo que apenas a primeira instalação valeria, e que existem diversas camadas de cobrança que prometem não se aplicar a desenvolvedores pequenos a não ser que seus jogos tivessem “grande sucesso”. A situação não se amenizou, e vários estúdios e desenvolvedores independentes se levantaram nas redes sociais contra a prática recém-anunciada.
A ameaça relatada pela Unity veio em seguida.
Nós entramos em contato com diversos gamedevs, estúdios e com a própria Unity para falar mais abertamente da situação. O estúdio brasileiro Rogue Snail – que usa a tecnologia gráfica da empresa no jogo Relic Hunters Legends – nos respondeu, dizendo:
“A notícia da Unity foi uma surpresa pra todo mundo aqui no estúdio e o timing também não ajudou muito – estamos prestes a lançar um jogo, o Relic Hunters Legend, que passamos 5 anos desenvolvendo com muito carinho e é exatamente por isso que o nosso foco no momento é lançar o jogo do jeito que a gente idealizou. Ainda não conseguimos mensurar quais os possíveis danos que essa decisão da Unity pode trazer pra gente. Como somos um estúdio independente, qualquer impacto financeiro extra dói bastante, podendo nos deixar em uma situação vulnerável.
É triste ver que essa decisão da Unity foi tomada sem considerar os desenvolvedores que há tantos anos trabalham com a ferramenta e que ajudaram a melhorá-la através de feedbacks. Ainda não sabemos qual será o nosso próximo passo com relação ao uso da ferramenta ou substituição, estamos acompanhando o desenvolvimento dessas decisões e focados em lançar o jogo da melhor forma possível.”
Vale citar: Relic Hunters Legends terá acesso antecipado no próximo dia 25.
Outros jogos que usam tecnologia da empresa incluem Genshin Impact, Cuphead, Pokémon Go, Fall Guys, Among Us e vários outros.
Fonte: tecmasters